Bairros são espaços situados em um raio de 400 a 800 metros de onde se vive e que podem ser explorados em uma caminhada de até 15 minutos. Eles passam a ter um papel importante para as crianças, principalmente a partir dos três anos de idade. Condições das moradias, saneamento básico, acesso a transporte público, áreas verdes e segurança são algumas características desses lugares que podem afetar o desenvolvimento infantil integral.
Este working paper reúne evidências recentes a respeito da influência exercida pelo território nas crianças, além de apresentar práticas inovadoras de intervenção adotadas como políticas públicas nas cidades de São Paulo (SP), Recife (PE) e Boa Vista (RR).
Há indícios de que a exposição à pobreza aprofunda os problemas de comportamento das crianças ao longo do tempo: eles aumentam com o passar dos anos a uma taxa tão mais elevada quanto piores forem as condições econômicas do bairro
Conceitos-chave
A publicação traz alguns conceitos-chave essenciais para aprofundar entendimento da importância do bairro no contexto de primeira infância e educação infantil.
Modelo Ecológico de desenvolvimento integra infantil de Bronfenbrenner
Modelo de análise do impacto do bairro sobre o desenvolvimento infantil segundo qual as crianças normalmente são afetadas por vários ecossistemas, desde o mais íntimo, em seu lar, até os mais abrangentes como a escola e o sistema maior que inclui a sociedade e a cultura em que ela vive. Cada um desses sistemas interage e influencia os demais em todos os aspectos da vida da criança.
Coesão Social do Bairro
De acordo com Leventhal e Brooks- Gunn (2000), a coesão social do bairro trata da conexão entre os moradores de um bairro ou vizinhança, os valores que compartilham e sua disponibilidade de ajuda mútua.
Bairro
Entendido como o território definido por um raio de 400 a 800 metros do lar, ou por tudo aquilo que possa ser alcançado numa caminhada de 15 minutos.
Mobilidade Social
Mudança entre a “classe de origem, definida pela ocupação do pai durante sua infância, e a classe de destino, definida pela ocupação do filho adulto”. Pode ser medida pelo “percentual total (taxas absolutas) de filhos adultos em posições de classe de destino diferentes de sua classe de origem (de seus pais)”, de acordo com Ribeiro (2012).
Urban95
A iniciativa Urban95 desenvolve e apoia projetos dentro do país e no exterior focados na relação entre o território e a primeira infância, tendo como mote uma pergunta: “Se você pudesse vivenciar uma cidade a partir de 95 cm – a altura de uma criança saudável de 3 anos – o que você mudaria?”
Raio-X da publicação
Em 2019, 27% das crianças brasileiras viviam em domicílios em situação de pobreza. Além disso, o país registrava cerca de 5,12 milhões de domicílios em favelas, abarcando 13,6 milhões de pessoas. Esse número representa um percentual quase 60% maior do que em 2010. De acordo com um estudo do IBGE, as áreas em que as condições de vida são mais precárias apresentam as maiores proporções de crianças por adulto.
Os efeitos do entorno sobre as crianças se apresentam nas seguintes dimensões:
Dimensão socioeconômica – Quanto mais baixo o nível socioeconômico, maior é o prejuízo para o desenvolvimento integral infantil.
Dimensão da rede social – Os vínculos e a sociabilidade que a família estabelece no bairro influenciam a criança.
Dimensão física – Boas condições das moradias, com acesso a áreas verdes, favorecem um desenvolvimento mais saudável.
Dimensão de serviços e governança – Mais estudos são necessários para investigar o impacto desses dois aspectos para o desenvolvimento das crianças.
Recomendações baseadas em evidências
As políticas públicas podem contribuir para o desenvolvimento infantil a partir da transformação do espaço urbano. O estudo apresenta iniciativas em diferentes regiões brasileiras que podem inspirar ações em cidades de todo o país. Conheça algumas delas e suas principais ações.
Boa Vista – RR
- Redução da velocidade no trânsito e criação de pontos de ônibus amigáveis às crianças
- Restauração de praças e produção de manifestações artísticas em calçadas e muros
- Instalação de espaços de brincar em unidades de saúde
Recife – PE
- Criação de ciclovias, corrimãos e jardins
- Aplicação de melhorias nas calçadas e cruzamentos
- Instalação de trocadores em banheiros e espaço dedicado às crianças pequenas em bibliotecas
São Paulo – SP
- Priorização do aumento da segurança viária
- Criação e aplicação de propostas lúdicas e interativas nos caminhos
- Revitalização de áreas verdes em bairros de baixa renda
Para mais recomendações, acesse o conteúdo completo
Autores
Camila Soares
Economista, integra o Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona da FGV
Ciro Biderman
Professor de Administração Pública e Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) e integrante do Comitê Científico do NCPI
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